Há alguns dias ouvi Jorge Coelho,
a propósito do discurso de 25 de abril de Cavaco Silva, definir a política como
“a arte da negociação”. Esta displicente forma de encarar a actividade política
é, em si mesmo, parte da explicação da razão pela qual o país chegou ao estado
em que nos encontramos.
É indiscutível que a capacidade e
engenho negocial se assume como determinante, enquanto meio para atingir um fim.
Porém, jamais deverá extrapolar desta dimensão meramente funcional, para uma
dimensão estrutural e concetual.
A política deve ser encarada como
a arte da assunção de compromissos para o bem comum superior. Julgo que a
perspetiva mercantilista e de negócio evidenciada por Jorge Coelho é
paradigmática de boa parte da classe política que nos tem governado nos últimos
anos: especialistas em manter equilíbrios clientelistas entre as parcas elites
da nossa sociedade, subjugando o sentido de estado para o plano do acessório e
do dispensável.